quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

“E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres..."

“E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.” 1ª Coríntios 13.3

Diante dos estragos causados pelas últimas chuvas no mês de janeiro desse ano na região serrana do estado do Rio de Janeiro, é impossível ligar a televisão e não se deparar com notícias a respeito do fato, e agora, principalmente, com os apelos para serem feitas doações aos desabrigados e também aos que mesmo não tendo perdido suas casas tiveram muitos prejuízos com a perda de utensílios domésticos, roupas ou estão isolados.
As campanhas de solidariedade são muitas e realmente precisam ser feitas, por que as necessidades naquela região são de proporções gigantescas.
Todas essas campanhas me depararam com o fato que sempre me chamou muita atenção, é o trabalho feito nas escolas e através da mídia ao longo dos anos, para a formação de uma consciência solidaria na população, independente da classe social. Inclusive uma emissora de televisão tem como slogan “Solidariedade a gente vê por aqui.”
Mas por que sempre me chamaram a atenção?
Observo que é durante campanhas massiças ou acontecimentos catastróficos que respostas solidarias são dadas. E no dia-a-dia, em que não há campanhas desse tipo, nem catástrofes, o que vemos?
Por exemplo, vemos o Hemorio pedindo “pelo amor de Deus” que alguém vá doar sangue, pois esse é um produto escasso nos hospitais e dele dependem vidas humanas. Vemos idosos, crianças, abandonados em asilos, orfanatos sem condições básicas para viverem, sem falar naqueles que moram nas ruas, debaixo de elevados e viadutos.
Grandes empresas pagam milhões para terem veiculado a mídia propagandas para divulgação de seus produtos, mas são incapazes de contribuir financeiramente adotando uma obra social. Bem, há aquelas que fazem sim, mas suas doações são abatidas do imposto de renda. Ou fazem quando por esse meio seu produto é promovido. Afinal nada mais justo, eles não tem obrigação de fazer isso, “é de responsabilidade dos governantes”, cabe a eles criarem medidas de políticas públicas para a melhoria da qualidade de vida da população, os empresário já pagam seus impostos que são caríssimos e dão trabalho a muitas pessoas. Esquecemo-nos e alguns nem conhecem a Palavra de Deus (Bíblia), que nos ensina no livro de Mateus no capítulo seis do versículo dois ao versículo quatro, que não devemos fazer conhecido publicamente nossas esmolas (doações), porque o Pai nos recompensará.
E nós “simples mortais” o que estamos fazendo? Respondemos que a vida já está tão difícil, trabalhamos duramente para ganhar tão pouco. Já pagamos tantas taxas elevadas e como se não bastasse assalariados chegam a pagar o imposto de renda. E como aqueles empresários, alegamos que “a responsabilidade é dos nossos governantes”.
Lendo o texto de primeira Coríntios capítulo treze, versículo três e pensando sobre a consciência solidária e a pratica das boas ações, comecei a me perguntar quais são os verdadeiros motivos que levam as pessoas a responderem imediatamente as grandes campanhas de solidariedade em meio as catástrofes?
Surpreendi-me quando em meio aos meus pensamentos imediatamente respondi não é o amor ao próximo. Como posso pensar assim?
Quando diminuem os apelos na mídia as necessidades são esquecidas. E na nossa vida diária não nos lembramos dos necessitados.
Não damos um “pulinho” no Hemorio para doar sangue, a não ser que queiramos ser dispensados do nosso trabalho nesse dia. Passamos pelas ruas cheias de pessoas necessitadas, mas logo justificamos o nosso descaso com julgamentos do tipo: “Esse é um preguiço, um alcoólatra, drogado. Procurou para si essa vida”, “Esse menino deve ser um “trombadinha” e vai querer me assaltar”. Sabemos sim, que muitos estão colhendo daquilo que eles mesmos plantaram e, há crianças que já cometeram diversos delitos, inclusive assassinatos. Mas como temos aprendido sobre “um caminho sobre modo excelente” que é o amor incondicional, que não é filantropia, nem piegas. Mas um amor que arde em graça, compaixão, misericórdia com aqueles que estão sofrendo, seja isso resultado de suas más ações ou não, que o desejo deve ser ardente em ver o bem estar, a recuperação, a felicidade do outro.
Minha pergunta continua... Qual o verdadeiro motivo para os gestos solidários a essas campanhas se não é uma prática?
O medo de acontecer o mesmo consigo? A lembrança do provérbio “Quem dá aos pobres empresta a Deus”?
David H. Stern em seu livro Comentário Judaico do Novo Testamento escreveu: “Boas obras, embora sejam sempre de grande valor aos seus beneficiários, terão valor aos que as fazem apenas se brotarem do amor que procede do poder do Espírito que atua em nós.” *, (grifo do autor).
Novamente pergunto: O que nos motivas a esses rasgos de solidariedade?


*Comentário Judaico do Novo Testamento/ David H. Stern - São Paulo: Didática Paulista; Belo Horizonte: Editora Atos, 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário